Por que muda a hora?

Em março e em outubro, há sempre uma alteração da hora em vigor: ora adiantamos, ora atrasamos os ponteiros. Mas qual a razão porque isso acontece?
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Está na altura de mais uma alteração na hora em vigor. Invariavelmente, na madrugada de sábado para domingo do último fim de semana de março e de outubro, há adianta-se ou atrasa-se uma hora. E há diversas razões: desde a poupança de energia a uma melhor qualidade de vida (ainda que seja algo com muita discussão à mistura), há alguns motivos para este ritual. 

Mas sabe porque é que mudámos a hora? A H URB dá uma ajuda! 

Ao contrário do que possa parecer, a hora é muito importante a todos os níveis dum país, seja para a nossa vida quotidiana seja para as empresas ou para atividade judicial e legislativa. A “hora legal” tem este nome devido ao seu caráter vinculativo: o Observatório Astronómico de Lisboa (OAL) frisa que a hora “é das infraestruturas mais importantes da sociedade moderna, pois toda a documentação transacionada (faturas, certidões, impostos, títulos, registos, bens monetários, etc.) está sujeita a ordenação temporal. Esta ordenação deve usar a Hora Legal portuguesa, pois só assim se estabelecem os momentos e prazos que são reconhecidos na Lei”. Até 31 de dezembro de 2022, a gestão e definição da hora legal em Portugal é gerida pela Comissão Permanente da Hora, um órgão consultivo criado em 1944 e que está sob alçada do OAL. É esperado que, a partir de 01 de janeiro de 2023, a Comissão passe para o Instituto Português de Qualidade, mas não há grandes novidades em relação a esse processo. 

Aliás, a definição da hora em Portugal é uma história antiga, longa e errática: surgiu, pela primeira vez no século XIX. O OAL nota que só em 1891 a hora oficial passou a ser medida na capital portuguesa, sendo que essa medição deveria ser o referencial para todos os serviços públicos do reino. O conceito de hora de verão e de inverno apenas surge em 1916, com a entrada de Portugal na I Guerra Mundial, como forma de o país lidar com as “dificuldades económicas determinadas pela guerra”. Já durante a II Guerra Mundial, Portugal assumiu mesmo quatro alterações de hora ao longo do ano.

Na década de noventa do século XX, numa tentativa de aproximação aos parceiros europeus, Portugal adotou, entre 1993 e 1995, o fuso horário europeu, ficando com a mesma hora de Espanha, França ou Bélgica, e, por consequência. Não correu muito bem! A título de exemplo, no mês de julho, o anoitecer em Portugal continental só acontecia depois das 22h. Em 1997, voltamos a estar em sintonia com o fuso horário de Greenwich, algo que se mantém até hoje. 

A Comissão Europeia (CE) tentou acabar com a hora de verão e de inverno por duas vezes, mas sem sucesso. 

Ainda faz sentido mudar a hora? 

Quando foi implementada, durante a I Guerra Mundial, a mudança de hora assumiu-se como um instrumento de poupança de carvão. E o mesmo em 1973, quando foi feito um corte no consumo energético, devido ao bloqueio dos países árabes exportadores de petróleo.  

Em 2018, quando a CE realizou um inquérito sobre a abolição da mudança de hora, cerca de um por cento da população europeia (sendo que cerca de meio ponto percentual das respostas vieram de Portugal) manifestou-se a favor. Ora, o OAL emitiu um parecer sobre a manutenção e mostrou-se contra essa abolição. Segundo o parecer, ao manter a hora de inverno durante todo o ano, faria com que, no verão, o nascer do sol no verão acontecesse perto das 05h, o que faz com que estas horas sejam “efetivamente desperdiçadas” pela população. Já o final de tarde, ficaria com menos uma hora de sol. Já se se optasse por manter o horário de verão durante todo o ano, no inverno, o nascer do sol aconteceria entre as 08 e as 09h durante quase cinco meses. Isto causaria impactos, até porque “o despertar da população acontecerá com as estrelas ainda no céu, durante quarenta por cento do ano”. Além disso, exigiria um maior consumo de energia e aquecimento: é que o período mais quente do dia só aconteceria por volta das 15h e não por volta do 12h, como acontece atualmente, tornando “as manhãs no período de atividade social sejam mais frias do que deveriam”. No entanto, o organismo considera que a poupança energética com a existência da hora de verão corresponde a uma “média inferior a um por cento”. 

Mas a mudança da hora tem impactos na saúde, não é? 

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Bem… a resposta a essa pergunta é muito dúbia. 

A título de exemplo, um parecer de 2018 da Ordem dos Psicólogos Portugueses elenca uma série de estudos sobre a relação entre as mudanças de hora e a sua ligação com acidentes rodoviários e de trabalho ou, até, com ataques cardíacos e depressão. No entanto, o parecer sublinha que “no que se refere aos impactos na Saúde, são necessários mais estudos científicos que permitam analisar e avaliar detalhadamente os efeitos, a curto e a longo prazo, da mudança da hora”. 

O parecer do OAL é mais taxativo. Citando um estudo de 2013, que indica que a adaptação à hora de inverno ou de verão está relacionada com os hábitos de sono dos indivíduos e pode demorar até duas semanas, o instituto diz que este este período é de “pouquíssimo tempo, quando comparados com os sete meses que dura o regime da hora de verão, e que na generalidade agrada à vasta maioria das pessoas”, sendo que o debate público se centra na transição e adaptação da hora de verão para hora de inverno: “Não há demonstração concludente da existência de perturbações significativas no ser humano (em todas as pessoas) que debilitem as suas capacidades, com prejuízo na realização da vida normal, durante estes períodos de transição. 

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